quarta-feira, 7 de julho de 2010

A arte marcial que vai além do tatame

É com um sorriso tímido de menino e convicções de um grande homem que Julio César Silvestre Ferreira Filho, 18, conta ao Juh Cunha Blog’s sua relação com o Judô, arte marcial que tem como princípio fundamental a anti-resistência: ceder à força do adversário, para desequilibrá-lo, para controlá-lo e para vencer com o mínimo de esforço.


Judoca há três anos e medalista nos principais campeonatos da região sudeste, Filho é referência de judô em Itajubá, Minas Gerais. Ele conta que o esporte não deve ser visto como arma ou autodefesa, muito menos um esporte como o futebol que é focado em competições, “o Judô é uma forma de viver” enfatiza.

No mês passado, Filho ganhou medalha de ouro na XXV Taça Guaratinguetá, na cidade de mesmo nome. Ele conta que foi um campeonato difícil, pois enfrentou adversários de categorias superiores. “A maior dificuldade é eu estar treinando menos por conta do vestibular, isso me deixa um pouco mais despreparado para as competições.”

Quando está no tatami o estudante não se vê como um competidor ou esportista. Para ele o principal é aprender a espiritualidade e a filosofia para que assim, possa ser chamado de judoca. “A gente não visa força dentro do tatame. Nós enfocamos o equilíbrio e o desequilíbrio do outro. Durante uma competição eu preciso descobrir os pontos fracos do oponente. É preciso sentir o adversário e executar o golpe com o máximo de eficiência e o mínimo de força.” Ele conta que não existe segredo para ser um bom judoca “basta ter disciplina e levar a filosofia da arte para a vida”. Filho afirma que em uma competição o foco não é a vitória, mas a superação de desafios e a busca por atingir as metas pessoais de cada um.

Quando o assunto são os benefícios que a arte traz para a vida Filho é objetivo “O maior beneficio da arte é aprender a respeitar o próximo, ser humilde, perseverante, firme, disciplinado e responsável”.

Ele ressalta que o judô, como muitas outras artes marciais, é visto como um incentivador da violência. Mas, ele defende “não é porque eu faço judô que eu vou sair aplicando os golpes na rua. O judô é uma arte que visa o equilíbrio e a espiritualidade, não tem nada a ver com ser violento”. O adolescente afirma que era muito superficial antes de praticar a arte. “Agora eu sou mais maduro, me preocupo mais com o próximo, em ser gentil e educado com as pessoas.”

O judoca tem uma pequena biblioteca em casa onde organiza livros e anotações sobre a arte “nem sempre o tempo do treino é suficiente para que haja aprofundamento em toda a espiritualidade do judô, por isso é necessário ter sede de conhecimento que vai além do tatame”.

Após seu último campeonato em Guaratinguetá, Filho decidiu parar de competir e se dedicar ao estudo e aprofundamento do judô “a competição favorece a disputa e a rixa. Muitas vezes por motivos inúteis as pessoas perdem o equilíbrio e deixam de lado a essência da arte”. Julio pretende buscar teorias e conhecer os lugares onde o judô foi criado e é praticado em sua origem.

O esportista, referência em judô, diz que não espera ser reconhecido como um grande judoca, mas objetiva a disseminação da arte “eu quero fazer projetos sociais e montar uma academia gratuita onde eu possa repassar tudo que eu aprendi.”

Filho resume a arte em uma palavra: caminho. “A arte sempre vai abrir caminho pra trabalhar o interior da gente. Isso é essencial” conclui.